Tarzan

 
Ficha-Técnica
Título: Tarzan (Tarzan/1966-68/BRA-MEX/Cor)
Criação:
 Edgar Rice Burroughs
Produtor Executivo:
Sy Weintraub
Elenco: Ron Ely (Tarzan), Manuel Padilla Jr. (Jai), Alan Caillou (Jason Flood), Rockne Tarkington (Tao)
Produtora: 
Banner Productions/Warner Bros.
Formato: 57 episódios de 47 minutos em 2 temporadas
Dublagem: Herbert Richers
Introdução
Se alguém pedisse para eu nominar um ator de série de tevê que realmente fez jus ao seu salário, recusou-se a ser substituído por dublês nas cenas mais perigosas e teve coragem de trabalhar praticamente semi-nu, sem pestanejar eu responderia: Ron Ely, na série Tarzan!
Essa foi a primeira produção televisiva do personagem e estreou nos EUA em setembro de 1966. Lamentavelmente, saiu do ar dois anos depois. O atlético ator de 1,90 m de altura, na verdade, um texano batizado Ronald Pierce, nascido aos 21 de junho de 1938, foi o grande responsável pelo estrondoso sucesso do personagem na telinha. Ron Ely, ainda sem sonhar que um dia imortalizaria o personagem na televisão, sempre foi um homem perseverante e disciplinado na busca da concretização de seus objetivos. 
Matriculou-se na Universidade do Texas, mas logo se mudou para a Califórnia. Após assinar contrato com a 20th Century Fox no final dos anos 50, Ely interpretou pequenos papéis coadjuvantes e inexpressivos em diversas séries de tevê, como How to Marry a Millionaire (1957/59, com Merry Anders, Barbara Eden e Lori Nelson), e em filmes como "South Pacific" e "The Remarkable Mr. Pennypacker". 
Em 1960, Ely foi escalado no elenco de uma série de tevê da CBS, chamada The Aquanauts (1960/61), que não se confunde com a série Sea Hunt ("Caçada Submarina"), também estrelada por Ely em 1987 (Sea Hunt foi uma versão moderna da série de mesmo nome, anos antes estrelada por Lloyd Bridges entre 1957 e 1961).
The Aquanauts foi cancelada após uma única temporada, mas sem desanimar, o ator continuou perseguindo o merecido reconhecimento profissional em vários outros filmes. Sua maior oportunidade ainda estaria por vir no ano de 1966, quando foi escalado no papel principal de Tarzan, na série de tevê de mesmo nome.
Ron Ely já havia tentado o papel de Tarzan na telona, logo após Jock Mahoney ("The Range Rider" e "Yancy Derringer") ter abandonado o papel em 1963. Porém, acabou perdendo a oportunidade para o jogador de futebol americano e ator Mike Henry, que já havia feito três filmes como Tarzan e foi inicialmente cogitado para a série de tevê. Mas Henry recusou o papel devido algumas desagradáveis experiências ocorridas enquanto filmava seu primeiro filme como Tarzan. Com a desistência de Mike Henry, então, a porta do sucesso se abriu e Ron Ely foi escalado para o tão cobiçado papel principal. "A tevê necessita de sex symbols, e Ron tem todos os atributos para isso", disse Sy Weintraub.
Ron Ely foi o décimo quarto ator a interpretar Tarzan, desde a primeira aparição do personagem a meio século antes, no filme mudo "Tarzan dos Macacos" (Tarzan of the Apes, 1918).
Após inúmeras frustrações na tentativa de se criar a série de tevê Tarzan, o produtor Sy Weintraub finalmente pôde levar o personagem para a telinha em 1966. Tarzan, como já mencionamos, foi ao ar pela NBC nos EUA, entretendo os lares norte-americanos a partir da primeira quinzena de setembro de 1966, prolongando-se até abril de 1968. Foram produzidos 57 selvagens episódios de 47 minutos cada. Na série para a tevê não havia a personagem Jane, mas sim, a chimpanzé Chita, que foi seu elemento humorístico.
A título de curiosidade, a outra série na tevê americana que era exibida pela NBC após o término de Tarzan era Jornada nas Estrelas.
Acidentes e Perseverança
Como dissemos, Ely recusou-se em ser substituído por dublês nas cenas mais perigosas, como combates corporais com animais selvagens, locomoção, travessias de pântanos utilizando-se apenas de cipós, pulos e mergulhos de altíssimas cachoeiras. Mas estas cenas de ação e aventura de Ron Ely exigiam demais de seu físico avantajado. As situações de perigo eram gravadas como se o ator tivesse com o corpo tomado, possesso por alguma força inimaginável e jamais vista. Muitas vezes ele atuava sentindo terríveis dores, quase que insuportáveis, advindas das conseqüências dos momentos de tensão e de ação exigidos pelos diretores. Mas nunca deixou de asseverar: "Tarzan é o papel que venho esperando a vida toda". O diretor James Komack, numa entrevista dada para a revista TV Guide, disse certa vez ter ouvido de Ron Ely a seguinte frase: "Essa é a minha grande chance. Eu nunca tive um papel de destaque. Eu nunca estive numa série de qualidade. É uma boa sensação, tão boa que, de certo modo, custo muito a acreditar que me machucarei seriamente". 
A palavra "seriamente" era utilizada de forma muito subjetiva por Ron Ely. Na verdade, freqüentes suturas múltiplas, costumeiros pontos no corpo todo, ossos quebrados constantemente e músculos repetidas vezes distendidos era o que mais se via no ator. Não só para mim, mas para qualquer pessoa em sã consciência, tais conseqüências podem traduzir realmente graves ferimentos e terríveis machucados.
Os danos e as lesões provocadas nas intensas cenas de ação na série, foram os motivos que fizeram com que o ator Mike Henry desistisse do papel, a ter que encarar os desafios verdadeiramente experimentados por Ron Ely. No caso de Mike Henry, num dos filmes encarnando ao personagem Tarzan, um chimpanzé, que deveria dar um beijo inocente e sem nenhuma conseqüência no ator cinematográfico, arrancou-lhe um pedaço do queixo, proporcionando-lhe 18 pontos no local. O fato motivou seu pedido de demissão e o manejo de uma ação de danos contra os produtores cinematográficos na cifra de 875 mil dólares. 
Mas esses "detalhes" jamais abalaram Ron Ely. Com ele, um puma, que é uma onça amarelo-avermelhada, conhecida no Brasil pelo nome de suçuarana, infligiu-lhe uma terrível cicatriz no calcanhar. Ademais, um leopardo rasgou-lhe a perna esquerda e um leão mordeu-lhe a fronte (pegou cinco pontos no local), arrastando o ator pelos pés por vários metros. Ely ganhou diversos ferimentos, mas admitiu: "É uma questão de honra. Eu realmente acredito que posso dominar esses animais".
E não foi só isso. Ron Ely, certa vez, lesionou o nervo da coluna cervical, pinçando-o em virtude da protusão do disco causada pela força compressiva no pescoço, enquanto carregava um ator e um bote afundado ao mesmo tempo. Também machucou o rosto e queimou os braços e as pernas enquanto atravessava um corredor estreitíssimo repleto de chamas flamejantes. Outra vez, Ron Ely deixou escapar o cipó numa de suas travessias por entre as árvores durante uma seqüência, caindo de uma altura de mais ou menos 10 metros. Sua cabeça e ombro foram os amortecedores do impacto do corpo, que caiu inconsciente. "Na verdade, eu fiquei constrangido", disse numa entrevista. "Eu quis levantar e mostrar à multidão de espectadores que se encontrava no local que tudo estava bem. Eu ainda guardo a lembrança da queda e da aproximação da minha cabeça até o solo. É uma péssima lembrança". Obviamente que a necessária cirurgia para reposicionar o ombro deslocado não foi tão agradável, mas os produtores mostraram seu pragmatismo salvando a cena e rescrevendo-a para incluir Tarzan, do alto, levando um tiro certeiro de um ladrão. 
Por conta de prejuízos e danos como esses, Ron Ely teve garantida uma apólice de seguro no valor de 3 milhões de dólares, pagos pela produção. Mas outros envolvidos na série de tevê também sofreram algumas situações inusitadas e foram vítimas das circunstâncias. Um elefante treinado usado na série, certa vez enfureceu-se na locação e antes de ser baleado, atacou uma mulher, uma criança e esmagou o treinador causando-lhe a morte. E um garoto de 10 anos de idade levou uma mordida de Vickie, o verdadeiro nome do chimpanzé que fazia o papel da macaca Chita, devido a uma crise de ciúmes a que foi acometida ao observar Ron Ely contracenando com o garoto.
O diretor Komack lembra de como, certa vez, Ron Ely apareceu na locação da série com um ligamento lesionado. Sua perna estava toda escura por conta do rompimento dos vasos sangüíneos no local. O ator insistiu que podia trabalhar e pediu ao maquilador que cobrisse a descoloração da perna com maquilagem. Mesmo correndo o risco da coagulação vir a matá-lo se fosse para seus pulmões, Ron Ely, ainda assim, pediu ao médico que lhe desse uma injeção contendo um agente anticoagulante. Tudo isso quis dizer, é claro, que se ele se cortasse durante a filmagem, poderia facilmente sangrar até a morte. "Por que ele fez isso?", Komack escreveu. "Porque Tarzan assim o faria. E Ron Ely é Tarzan". 
E essa não foi uma observação isolada do diretor. Uma outra observação no mesmo sentido também veio do próprio Ron Ely. "Se é algo que eu sinto que posso fazer, eu devo fazer sozinho", disse Ely. "Não é bom vender algo que não seja verdade. Eu quero fazer com que o telespectador acredite que eu sou Tarzan". E Ron Ely realmente convenceu, não obstante as escoriações, os hematomas, os tombos, as fraturas, os cortes, os machucados e os inúmeros riscos à sua integridade física e à própria vida. Um ator extremamente profissional, preocupado com o respeito e a opinião de seus fãs e dos envolvidos nas filmagens.
A Série
Tal qual os filmes do Homem-Macaco, a série feita para a tevê manteve no seu elenco Tarzan, nascido Lorde Greystoke, mas que preferiu a vida na selva. 
Quando criança, Tarzan era chamado de John Clayton III, ou Lorde Greystoke. Certa vez, perdeu-se de seus pais numa floresta, onde foi encontrado e criado pelos grandes macacos. O menino recebeu o nome de Tarzan, que significa "Pele Branca". Mais tarde, voltou para a civilização, onde foi educado, mas acabou voltando para a selva que ele conhecia tão bem, onde lutaria pela lei do direito. A onça passou a conhecer alguém mais ágil que ela e o leão, a conhecer alguém mais corajoso.
O grito de Tarzan é conhecido por todas as criaturas da selva. Ao ouvi-lo, o antílope sabe que está a salvo, o leão pára,e o crocodilo busca a segurança da água e o elefante vem até o seu amigo.
Na série também estrelam Manuel Padilla, Jr., como  Jai, o garoto auxiliar de Tarzan, que a exemplo do próprio Tarzan, era um órfão da selva; a macaca Chita (Vickie); Alan Caillou como Jason Flood, tutor de Jai; e Rockne Tarkington como Rao, um veterinário. A série foi produzida pela companhia Banner Productions e teve locações filmadas no Brasil e no México.
Gravações
Os primeiros episódios de Tarzan foram filmados no Brasil e os demais no México. As gravações das primeiras aventuras foram caóticas devido a chegada da temporada de chuvas na América do Sul. Ainda assim, foram possíveis tomadas importantes como de Tarzan nas Cataratas do Iguaçu e na tripla fronteira da Argentina, Paraguai e Brasil. O produtor da série - Weintraub - disse na ocasião: "Essas cataratas convertem as do Niágara numa gota de água. Não há nada que se compare. Os espectadores irão apreciar".
Entretanto, as difíceis condicões de gravação, a presença de disenteria, mosquitos e pragas, desmoralizavam qualquer um, além de provocar mais gastos do que o previsto. Depois de vários meses, apenas cinco episódios haviam sido gravados e o orçamento de 450 mil dólares já estava quase acabando.
Nas últimas cenas filmadas no Brasil, com Ely correndo por um set que devia pegar fogo, foram satisfatórias para todos, menos para o própio Ely, que teve queimaduras nos braços e pernas. Mas as aguentou heróicamente e não se quixou de nada, já que ele mesmo queria fazer suas própias cenas de risco, sem dublês. Logo depois, Weintraub mudou as gravações para o México.
Curiosidades
Na tevê americana, pela Rede NBC, Tarzan era exibido nas noites de sexta-feira, às 19h, e competia diretamente com a série de faroeste James West da CBS e com Off to See the Wizard na ABC. Não recordo quando assisti a Tarzan pela primeira vez, nem ao menos o canal da tevê brasileira que inicialmente levou a série ao ar, mas recordo inúmeros episódios e a presença de alguns atores brasileiros, tais como José Lewgoy e Mílton Gonçalves, dentre outros que atuavam como figurantes. Numa atitude assaz ignóbil dos produtores, pelo menos os que tinham uma participação mais marcante não tinham seus nomes creditados nos episódios.
Uma estória que marcou a minha infância foi o episódio de duas partes "Silêncio Mortal" (The Deadly Silence), sendo inesquecível o final da primeira parte, quando Tarzan, submerso num rio, é impiedosamente bombardeado por inimigos e perde temporariamente a audição.
Quando criança, eu costumava imitar a marcha de Tarzan, sibilando a inesquecível composição musical que tinha na sua condução o maestro Walter Greene. A orquestra era a de Emil Cadkin e a marcha de Tarzan atribuída ao mago Sydney Lee, característica marcante quando das cenas de ação.
Muitos atores de renome e celebridades participaram dos episódios de Tarzan. Diana Ross fez uma irmã da igreja que retorna a sua aldeia para construir um hospital e catequizar os seus.
Ron Ely, hoje em dia, dedica-se a escrever novelas de mistérios, obtendo grande sucesso como escritor.
Nos últimos anos, revi Tarzan dublado no canal por assinatura Warner Channel. Até o fim de 2005, pudemos rever os episódios pelo canal Retro, mas somente disponibilizados com legendas, sem a inesquecível dublagem original. 
A Media Enterprises lançou todos os 57 episódios da série numa coleção de 28 DVDs. O idioma é o original em inglês, sem legendas. Somente localizei a venda através de lojas virtuais estrangeiras.
A lenda de Tarzan se diferencia das lendas da antiguidade, pois estár relacionada ao imperialismo inglês na África: um lorde inglês branco se perde na selva e, crescido, se torna "rei da selva" africana; Tarzan tem mais relações com os macacos do que com os povos nativos da África; e finalmente, Tarzan se casa com Jane, uma norte-americana de modos aristocráticos, para assim continuar a linhagem branca no domínio do continente africano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário